quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Combustíveis fósseis e águas subterrâneas: risco de contaminação


Ilustração: Livia Serri Francoio

A contaminação dos aquíferos subterrâneos por derivados de petróleo é um problema que ganha, na contemporaneidade, crescente preocupação, já constatada em países desenvolvidos, como  Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos (OLIVEIRA & LOUREIRO, (1998).  No Brasil, apesar da atenção recebida por órgãos federais, como a Agência Nacional das Águas (ANA) e estaduais, como a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB), o tema ainda é incipiente.

 Dados de entidades que monitoram a qualidade da água fornecem parâmetros da gravidade do problema. De acordo com a Agência de Proteção Ambiental Norte – Americana (EPA) ,  existem cerca de dois milhões de tanques subterrâneos de armazenamento de gasolina nos Estados Unidos; destes, 30%, ou seja, seiscentos mil  já vazaram ou estão em processo de vazamento (CORSEUIL, 1997). Em São Paulo, de acordo com a CETESB, os postos de gasolina respondem por 63% das áreas de águas subterrâneas contaminadas (TEIXEIRA, 2008). No Brasil existem aproximadamente trinta e cinco mil postos de gasolina, a maioria construída na década de 70. Como esses postos possuem uma vida útil em torno de 25 anos, configura-se um cenário que evidencia a necessidade de  constante vigilância de órgãos  responsáveis.

Em caso de vazamento de gasolina, o contato com a água subterrânea permite a dissolução parcial do combustível. Conseqüentemente, os hidrocarbonetos monoaromáticos benzeno, tolueno, etilbenzeno e os três xilenos orto, meta, para (BTEX), componentes da gasolina com maior miscibilidade em água, contaminarão os lençóis freáticos (CORSEUIL, 1992). Leucemia, danos nocivos ao sistema nervoso e morte da fauna e da flora: eis uma fotografia obscura que o contato com esses componentes pode proporcionar.

Em virtude dos danos nocivos ao ambiente e aos seres vivos que a presença de hidrocarbonetos acarreta, procuram-se medidas que possam atenuar os prejuízos desses compostos em lençóis subterrâneos. Citam-se como recursos os processos de extração de vapores do solo, que  promovem a retirada dos contaminantes voláteis, utilizando-se o vácuo. Pode-se recorrer, também, ao Air Sparging, técnica que utiliza a injeção controlada de ar para a remoção de compostos orgânicos voláteis dissolvidos na água, visto que força a mudança do estado líquido para o gasoso do composto que se deseja extrair. Esses mecanismos, no entanto, exigem longos períodos de tempo e altos custos para a remediação das áreas contaminadas (CORSEUIL & WEBER, 1994). Ressalta-se ainda que nem sempre esse tipos de  iniciativas são capazes de reverter todo um quadro de contaminação.

Outra alternativa, economicamente mais viável, baseia-se na biorremediação  processo que emprega microrganismos e suas enzimas para a degradação de compostos tóxicos. A técnica, todavia, é limitada por apresentar dependência das condições de temperatura  e da presença de nutrientes no local, para que os microrganismos proliferem.

A contaminação da água subterrânea é um grave problema porque afeta um recurso indispensável à existência humana. Ressalta-se ainda que a sociedade moderna não conseguirá se livrar tão cedo desse risco, pois ainda depende desses combustíveis para movimentar grande parte de sua frota dos veículos.

Por fim, resta-nos saber se os sistemas de tratamento de água, especialmente nas cidades que são abastecidas por água subterrânea são capazes de eliminar essas substâncias e restaurar a integridade do composto mais vital ao ser humano, de modo a garantir segurança à saúde da população.

Bibliografia:

CORSEUIL, X.H.; MARINS, D.M. Contaminação de águas subterrâneas por derramamento de gasolina: o problema é grave? Revista Engenharia Sanitária e Ambiental, v.2, n.2, p.50-54, 1997.

OLIVEIRA, I.L.; LOUREIRO, O.C. Contaminação por combustíveis orgânicos em Belo Horizonte: avaliação preliminar. Revista Águas Subterrâneas, São Paulo, 1998.

SUGIMOTO, L. Sensores detectam e monitoram contaminação de águas subterrâneas. Jornal da UnicampCampinas, 22-28 nov. 2004.


Por Felipe Morais Del Lama e Laura Alves Martirani

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