terça-feira, 23 de novembro de 2010

Cobertura Vegetal na Bacia do Corumbataí: Situação atual e Perspectivas


Bacia hidrográfica é uma área onde ocorre a drenagem da água das chuvas para um determinado curso de água, que se dá pelos desníveis de terrenos, sempre das áreas mais altas para as mais baixas. Esta é delimitada por divisores d’água, que constituem formações geológicas naturais, podendo abranger diferentes cidades e estados.

Por sua grande relevância na captação de água e abastecimento público são unidades territoriais estratégicas de gestão ambiental conforme determina a lei federal da Política Nacional de Recursos Hídricos n0 9.433 de 1997.
A bacia hidrográfica do rio Corumbataí (SP) pertence à bacia do rio Piracicaba (SP) e compreende área aproximada de 1717km2, abrangendo os municípios de Analândia, Charqueda, Ipeúna, Itirapina, Piracicaba, Rio Claro e Santa Gertrudes, drenando importante área agro-industrial do estado. Seu principal manancial é o rio Corumbataí que nasce em Analândia e deságua no rio Piracicaba.


O centro oeste paulista historicamente caracteriza-se pela intensa atividade agrícola, sendo ocupado pelas culturas de café e algodão durante o século XIX, além da extração madeireira.
A partir da década de 70, com a criação do Programa Federal Proálcool, lei 76.593 de 1975, o uso do solo para o cultivo da cana-de- açúcar foi ampliado, sendo o estado de São Paulo pioneiro no setor sucro-alcooleiro, essa política teve forte impacto na bacia Corumbataí2 . Hoje a bacia do rio Corumbataí apresenta 39,6% do total de sua área ocupada por cana-de-açúcar e 27,51% por áreas de pastagem3. Em decorrência desse histórico essencialmente agrícola, que negligenciou importantes aspectos ecológicos e ambientais, hoje grande parte da cobertura vegetal natural está degradada sendo as fitofisionomias mais afetadas o cerrado e a floresta estacional semidecidual. O que tem se intensificado pela recente expansão agrícola para o cultivo da cana-de- açúcar.
Além da perda de diversidade muitos outros impactos foram e ainda são causados pela ausência de planejamento ambiental da ocupação agrícola na bacia, como erosão, compactação e empobrecimento do solo, além da poluição e assoreamento dos rios4.
Medidas visando à conservação dos biomas existentes na área da bacia foram tomadas, dentre elas a criação de Unidades de Conservação. Como por exemplo, a Floresta Estadual “Edmundo Navarro de Andrade” localizada nos municípios de Rio Claro e Santa Gertrudes, que apresenta remanescentes de Cerrado e floresta estacional decidual e semidecidual. E uma reserva de cerrado sob responsabilidade do instituto de biociências da Universidade Estadual de São Paulo “Júlio Mesquita” (UNESP), constituída prioritariamente por cerrado, estando presentes várias de suas formações, além de fragmentos de floresta estacional decidual.
Iniciativas de reflorestamento foram tomadas, entretanto, a taxa de sucesso tem sido muito baixa, o que evidencia a utilização de técnicas simplistas, que não contemplam aspectos importantes, como a diversidade de espécies e suas diferentes aptidões com relação à sucessão ecológica. Devido a essa displicência torna-se inviável o restabelecimento da estrutura e função da floresta e conseqüentemente do papel ecológico fundamental exercido pela mata ciliar.


Em 2005 a Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo em parceria com a ONG The Nature Conbservancy (TNC), a Agência Nacional de Águas (ANA) e a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), da Secretaria da Agricultura e Abastecimento criou o Projeto de Recuperação de Matas Ciliares (PRMC) visando desenvolver ferramentas e metodologias que permitam a recuperação das matas ciliares, tendo como unidade de trabalho as microbacias de todo o estado.
Na bacia do Piracicaba, Jundiaí e Capivari (PCJ), onde está inserida a microbacia do rio Corumbataí, foi elaborado um plano diretor para a recomposição florestal objetivando manter a vazão e equilíbrio hidrológico dos corpos d’água, contemplando os padrões ecológicos adequados.


Além das iniciativas de restauração o PRMC contempla atividades de educação ambiental para, além de conscientizar os produtores rurais quanto à importância da mata ciliar, torná-los parceiros e agentes multiplicadores. Outra medida que vem sendo trabalhada é o pagamento de serviços ambientais através de iniciativas como o “Programa Produtor-Conservador de Água”.


Água e matas são indissociáveis, portanto ao se debater a questão dos recursos hídricos, estruturar políticas de planejamento, implementar atividades agrícolas ou até mesmo ambientais deve-se considerar e respeitar a ligação intrínseca e dinâmica existente entre esse elementos.


NOTAS


1. ANTONELLO, S. L. et al, Análise contextual do uso da terra e cobertura vegetal. In: In: TAUK-TORNISIELO S. M.; ESQUIERRO J. C., Bacia do Corumbataí aspectos socioeconômicos e ambientais. São Paulo: Consórcio PCJ, 2008. cap 4, p. 35-44


2. TAUK-TORNISIELO S. M.; PALMA-SILVA, G. M.,Condições climáticas, solo e cobertura vegetal. In: TAUK-TORNISIELO S. M.; ESQUIERRO J. C., Bacia do Corumbataí aspectos socioeconômicos e ambientais. São Paulo: Consórcio PCJ, 2008. cap 3, p. 23-24.


3. ANTONELLO, op. Cit.


4. TAUK-TORNISIELO; PALMA-SILVA, op. cit.



Texto escrito por Gabriele Valadão, graduanda em ciências biólogas ESALQ/USP, e Isabela Peres, graduanda em gestão ambiental ESALQ/USP; na disciplina "Multimeios e Comunicação" no primeiro semestre de 2010.