quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Mata Ciliar: Importância na manutenção dos recursos Hídricos

A cobertura vegetal encontrada ao longo de rios, córregos, nascentes, lagos e represas constitui a mata ciliar. Esta possui grande importância na manutenção da qualidade da água e também uma relevante função ecológica, além de contribuir para conservação da biodiversidade .
A presença de vegetação ao longo dos cursos d’água é fundamental, visto que influi em fatores como: a vazão, qualidade e equilíbrio térmico da água e manutenção da estrutura física do solo.
A camada orgânica formada pela ciclagem de nutrientes e o aumento da porosidade do solo gerado pelas raízes das plantas proporcionam maior infiltração da água, mantendo a capacidade de armazenamento da bacia hidrográfica1. Esses fatores também são relevantes para a proteção do solo, visto que tornam as margens mais estáveis evitando a erosão (imagens 1 e 2).






No que diz respeito à qualidade da água, a mata ciliar atua como um filtro minimizando a entrada de sedimentos e matéria orgânica no curso d’água, inclusive de insumos agrícolas como herbicidas, evitando a eutrofização e assoreamento. Outro fator importante é a redução da penetração de raios solares proporcionando equilíbrio térmico, extremamente importante para a fauna aquática2.
A mata ciliar ou de galeria, funciona como um corredor ecológico, que permite o deslocamento de fauna entre os fragmentos florestais. Esta também atua como abrigo, provê alimento e devido a sua heterogeneidade e complexidade florística, comporta diferentes nichos ecológicos e, portanto, uma alta diversidade faunística3.
Outro aspecto relevante é a sua grande heterogeneidade florística, que torna cada fragmento de mata ciliar uma área cuja diversidade é única e portanto necessita de preservação, sendo difíceis as tentativas de reflorestamento4.
Contudo, a grande relevância dessas formações florestais não foi considerada durante a expansão agrícola, priorizando-se a produtividade. No século XIX, as culturas como café e algodão, foram as principais responsáveis pelo desmatamento da vegetação natural no estado de São Paulo, ficando esta restrita a apenas alguns fragmentos. Atualmente, o grande crescimento do setor sucro-alcoleiro intensificou o uso de terra para produção de cana de açúcar, o que culminou na destruição, quase que total, da cobertura vegetal do estado.
A expansão de fronteiras agrícolas foi tradicionalmente a forma como, no Brasil, buscou-se resolver a necessidade do aumento na produção, entretanto, isso é extremamente controverso, pois, na maioria das vezes foi desconsiderada a real aptidão do solo para a agricultura, devido a isso grande parte das áreas desmatadas apresenta produtividade baixa ou estão em situação de abandono.
Atualmente, embora exista legislação específica tratada no Código Florestal, bem como iniciativas de reflorestamento, o desmatamento das áreas ciliares para fins agrícolas ainda perdura e são raras as situações onde há um planejamento ambiental efetivo.
Segundo o Código Florestal, regulamentado pela Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965, as matas ciliares estão localizadas nas Áreas de Preservação Permanente (APP’s), as quais não podem ter suas formas de vegetação alteradas.Foram feitas alterações nesta versão do código, a primeira em 1985 aumentou a largura mínima da área de proteção de 5 m para 30m, e estabeleceu larguras ideais a partir do tamanho do corpo d’água. Em 1989 uma segunda modificação tornou obrigatório o reflorestamento de áreas já destruídas próximas as nascentes também denominadas olhos d’água (imagem 3).




Recentemente, foram propostas várias mudanças polêmicas no código florestal, tendo com redator o deputado federal Aldo Rebelo (PC do B). No que se refere às APP’s propõe-se uma redução na largura destas. Há muitas discussões a respeito das implicações destas alterações devido ao paradoxo existente entre interesses sociais, econômicos, ecológicos e ambientais.
A importância das matas ciliares e a complexidade das relações que a envolvem tornam fundamental acompanhar e participar não só das alterações no Código Florestal, mas também das iniciativas de conservação e recuperação destas formações.
NOTAS
1 Zakia, 1998.
2 Lima; Zakia, 2004.
3 Marinho-Filho; Gastal, 2004.
4 Rodrigues; Nave, 2004.

BIBLIOGRAFIA

LIMA, W. P.; ZAKIA M. J. B. Hidrologia de Matas Ciliares. In: RODRIGUES, R. R.; LEITÃO-FILHO, H. F., Matas ciliares: conservação e recuperação. São Paulo: EDUSP, 2004. cap. 3, p. 33-44.

MARINHO-FILHO; GASTAL M.L., Mamíferos das Matas Ciliares dos Cerrados do Brasil Central. In: RODRIGUES, R. R.; LEITÃO-FILHO, H. F., Matas ciliares: conservação e recuperação. São Paulo: EDUSP, 2004. cap. 13, p. 209-233.

REFOSCO J. C.; PINHEIRO A., Impacto do Desflorestamento Sobre o Regime Hídrico de uma Bacia Hidrográfica. Revista de estudos ambientais. Blumenau, v. 1, n. 2, mai/ago 1999

RODRIGUES, R. R.; NAVE A. G., Heterogeneidade florística das Matas Ciliares. In: RODRIGUES, R. R.; LEITÃO-FILHO, H. F., Matas ciliares: conservação e recuperação. São Paulo: EDUSP, 2004. cap. 4, p. 45-71.

SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO, Preservação e recuperação das nascentes de água e vida. São Paulo, 2009.

ZAKIA, M. J. B., Identificação e aracterização da zona ripária em uma microbacia experimental: implicações no manejo de bacias hidrográficas e na recomposição de florestas. Tese título de Doutor, a Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, 1998.


Texto escrito por Gabriele Valadão, graduanda em ciências biólogas ESALQ/USP, e Isabela Peres, graduanda em gestão ambiental ESALQ/USP; na disciplina "Multimeios e Comunicação" no primeiro semestre de 2010.



Um comentário:

  1. No ano de 2.003, eu (Newton Almeida) era Secretário Municipal de Meio Ambiente de Rio Bonito (RJ), e conquistamos o apoio do Consórcio Ambiental Intermunicipal Lagos / São João, idealizado e fundado pelo Luiz Firmino Pereira, para reflorestamentos em Rio Bonito . ( Foi o Firmino que conseguiu levar adiante os projetos para a despoluição da Lagoa de Araruama, que passados uns 7 anos está completamente revitalizada, em seguro processo de despoluição ). Vejam as fotos logo acima, na primeira foto, margem do Rio Bacaxá, em 16 de novembro de 2.003 . E a mesma margem em 30 de janeiro de 2011, na segunda foto . Percebam como é difícil recompor as matas ciliares. Após sete anos é que começam a ter aspecto de mata, as árvores plantadas, na margem direita, pelo Projeto de Reflorestamento do Rio Bacaxá , em 2003 / 2004..... http://limpezariomeriti.blogspot.com

    Parabéns pelo trabalho ! Pessoas como vocês me motivam a acreditar que nosso filhos viverão num mundo melhor !
    Newton Almeida
    MEIO AMBIENTE RIO DE JANEIRO

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