terça-feira, 17 de junho de 2014

Ambiente e saúde: o uso de agrotóxicos no Brasil


Fonte: panfleto campanha permanente contra os agrotóxicos e pela vida (2012)

Desde muito pequenos escutamos que para sermos saudáveis temos que comer frutas e vegetais. Mas será que isso ainda se aplica aos alimentos que consumimos atualmente?

Durante o século 20 as grandes empresas do ramo químico desenvolveram tecnologias de guerra baseadas no uso de substâncias tóxicas para o ambiente. Um exemplo é o agente laranja que foi utilizado em florestas vietnamitas como um agente desfolhante para desocultar tropas escondidas (LUCCHESI, 2005). Essa substância causou ampla destruição ambiental e provocou enfermidades irreversíveis na população, sobretudo má-formações congênitas, câncer e síndromes neurológicas em crianças, mulheres e homens do país.

Com o fim das grandes guerras mundiais as empresas químicas começaram a direcionar essa produção para eliminar pragas e aumentar a produtividade em propriedades agrícolas num mundo onde milhares de pessoas passavam fome. No entanto a negligência e falta de estudos sobre os efeitos dessas substâncias somadas a interesses comerciais para apressar a aprovação das mesmas fizeram com que compostos altamente tóxicos para o ambiente e saúde humana fossem amplamente utilizados. Em 1962 no livro “Primavera silenciosa” a autora, Rachel Carson já afirmava: “Nós permitimos que esses produtos químicos fossem utilizados com pouca ou nenhuma pesquisa prévia sobre o seu efeito no solo, na água, animais selvagens e sobre o próprio homem”

Até hoje usamos o termo "dedetizar uma casa". Essa expressão se refere ao DDT (diclorodifeniltricloroetano) um agrotóxico organoclorado com efeitos potencialmente carcinogênicos (D’AMATO, 2012) que persiste no ambiente e se bioacumula na gordura animal (inclusive do homem) por vários anos. Segundo um trabalho realizado por Danielly Palma em 2010, todas as amostras de leite materno coletadas em sua pesquisa na cidade de Lucas do Rio Verde, um importante pólo agrícola do MT, possuíam metabólitos do DDT. Essa substância foi amplamente utilizada a partir da década de 50 na agricultura e borrifada em paredes das casas em dedetização. Atualmente o DDT se encontra banido na maioria dos países.

O Brasil é o país que mais consome agrotóxicos no mundo. Segundo dados da ABRASCO cerca de 20% de toda produção de agrotóxicos do mundo é utilizada pelo Brasil. Tal uso exorbitante gera problemas ambientais e de saúde do produtor até o consumidor. 

O Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA) da ANVISA mostra que 63% dos alimentos consumidos no Brasil contém algum resíduo de defensivo agrícola e 28% está acima do limite máximo estabelecido pelas normas brasileiras. A imagem mostra a porcentagem de amostras irregulares das culturas campeãs em problemas com agrotóxicos:

Fonte: Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos da ANVISA (2011) 

No Brasil, a cada ano, cerca de 500 mil pessoas são contaminadas, segundo o Sistema Único de Saúde (SUS) e estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS). A contaminação por agrotóxicos existe na maioria de nossos alimentos, provocada por níveis de resíduos acima do permitido, pela utilização de agrotóxicos não permitidos para certos tipos de cultivo e também por conta da utilização de agrotóxicos proibidos no país. A ANVISA afirma que 14 tipos de agrotóxicos prejudiciais à saúde já banidos em outros países continuam em circulação no Brasil e que devem ser urgentemente banidos.

Portanto, embora seja recomendável o consumo de frutas e vegetais para uma boa saúde, devemos sempre estar atentos à procedência do alimento que vamos ingerir. E se possível dar preferência para alimentos isentos de agrotóxicos como os alimentos orgânicos ou agroecológicos.

Referências:

ANVISA. Programa de Análise de Resíduo de Agrotóxico em Alimentos (PARA), dados da coleta e análise de alimentos de 2010. Brasília. 2011. Disponível em www.anvisa.gov.br. Acesso em 03/05/2014.

CARNEIRO, F. F. et al. Dossiê ABRASCO – Um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde. Parte 1 - Agrotóxicos, Segurança Alimentar e Nutricional e Saúde. Rio de Janeiro: ABRASCO, 2012

CARSON, R. L.; DARLING, L.; POLILLO, R. Primavera silenciosa. Rio de Janeiro: Melhoramentos, 1962.

D’AMATO, C.; TORRES, J. P. M.; MALM, O. DDT (diclorodifeniltricloroetano): toxicidade e contaminação ambiental - uma revisão. Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Centro de Ciências da Saúde. Rio de Janeiro. Química Nova. 2002

LUCCHESI, G.Consultoria legislativa: Agrotóxicos – Construção da legislação. Brasília. 2005. Disponível em: http://bd.camara.gov.br/bd/bitstream/handle/bdcamara/2227/agrotoxicos_construcao_lucchese.pdf. Acesso em: 03/05/2014.

PALMA, D. C. A. et al. Agrotóxicos em leite humano de mães residentes em Lucas do 
Rio Verde – MT. 2011. Instituto de Saúde Coletiva. Universidade Federal do Mato Grosso.

Por Lucas Vinícius Domingues, sob orientação da professora Laura Alves Martirani

Nenhum comentário:

Postar um comentário