Fonte: panfleto campanha
permanente contra os agrotóxicos e pela vida (2012)
Desde
muito pequenos escutamos que para sermos saudáveis temos que comer frutas e
vegetais. Mas será que isso ainda se aplica aos alimentos que consumimos
atualmente?
Durante
o século 20 as grandes empresas do ramo químico desenvolveram tecnologias de
guerra baseadas no uso de substâncias tóxicas para o ambiente. Um exemplo é o
agente laranja que foi utilizado em florestas vietnamitas como um agente
desfolhante para desocultar tropas escondidas (LUCCHESI, 2005). Essa substância
causou ampla destruição ambiental e provocou enfermidades irreversíveis na
população, sobretudo má-formações congênitas, câncer e síndromes neurológicas
em crianças, mulheres e homens do país.
Com o
fim das grandes guerras mundiais as empresas químicas começaram a direcionar essa
produção para eliminar pragas e aumentar a produtividade em propriedades
agrícolas num mundo onde milhares de pessoas passavam fome. No entanto a
negligência e falta de estudos sobre os efeitos dessas substâncias somadas a
interesses comerciais para apressar a aprovação das mesmas fizeram com que
compostos altamente tóxicos para o ambiente e saúde humana fossem amplamente
utilizados. Em 1962 no livro “Primavera silenciosa” a autora, Rachel Carson já
afirmava: “Nós permitimos que esses produtos químicos fossem utilizados com
pouca ou nenhuma pesquisa prévia sobre o seu efeito no solo, na água, animais
selvagens e sobre o próprio homem”
Até hoje usamos
o termo "dedetizar uma casa". Essa expressão se refere ao DDT
(diclorodifeniltricloroetano) um agrotóxico organoclorado com efeitos
potencialmente carcinogênicos (D’AMATO, 2012) que persiste no ambiente e se
bioacumula na gordura animal (inclusive do homem) por vários anos. Segundo um
trabalho realizado por Danielly Palma em 2010, todas as amostras de leite
materno coletadas em sua pesquisa na cidade de Lucas do Rio Verde, um
importante pólo agrícola do MT, possuíam metabólitos do DDT. Essa substância
foi amplamente utilizada a partir da década de 50 na agricultura e borrifada em
paredes das casas em dedetização. Atualmente o DDT se encontra banido
na maioria dos países.
O
Brasil é o país que mais consome agrotóxicos no mundo. Segundo dados da ABRASCO
cerca de 20% de toda produção de agrotóxicos do mundo é utilizada pelo Brasil.
Tal uso exorbitante gera problemas ambientais e de saúde do produtor até o
consumidor.
O Programa
de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA) da ANVISA mostra
que 63% dos alimentos consumidos no Brasil contém algum resíduo de
defensivo agrícola e 28% está acima do limite máximo estabelecido pelas normas
brasileiras. A imagem mostra a porcentagem de amostras irregulares das culturas
campeãs em problemas com agrotóxicos:
Fonte: Programa de Análise
de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos da ANVISA (2011)
No
Brasil, a cada ano, cerca de 500 mil pessoas são contaminadas, segundo o
Sistema Único de Saúde (SUS) e estimativas da Organização Mundial da Saúde
(OMS). A contaminação por agrotóxicos existe na maioria de nossos
alimentos, provocada por níveis de resíduos acima do permitido, pela utilização
de agrotóxicos não permitidos para certos tipos de cultivo e também por conta
da utilização de agrotóxicos proibidos no país. A ANVISA afirma que 14 tipos de
agrotóxicos prejudiciais à saúde já banidos em outros países continuam em
circulação no Brasil e que devem ser urgentemente banidos.
Portanto,
embora seja recomendável o consumo de frutas e vegetais para uma boa saúde,
devemos sempre estar atentos à procedência do alimento que vamos ingerir. E se
possível dar preferência para alimentos isentos de agrotóxicos como os
alimentos orgânicos ou agroecológicos.
Referências:
ANVISA.
Programa de Análise de Resíduo de
Agrotóxico em Alimentos (PARA), dados da coleta e análise de alimentos de
2010. Brasília. 2011. Disponível em www.anvisa.gov.br. Acesso em 03/05/2014.
CARNEIRO,
F. F. et al. Dossiê ABRASCO – Um alerta
sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde. Parte 1 - Agrotóxicos, Segurança
Alimentar e Nutricional e Saúde. Rio de Janeiro: ABRASCO, 2012
CARSON, R. L.; DARLING, L.; POLILLO, R. Primavera silenciosa. Rio de Janeiro: Melhoramentos, 1962.
D’AMATO,
C.; TORRES, J. P. M.; MALM, O. DDT
(diclorodifeniltricloroetano): toxicidade e contaminação ambiental - uma
revisão. Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, Universidade Federal
do Rio de Janeiro, Centro de Ciências da Saúde. Rio de Janeiro. Química Nova.
2002
LUCCHESI,
G.Consultoria legislativa: Agrotóxicos –
Construção da legislação. Brasília. 2005. Disponível em: http://bd.camara.gov.br/bd/bitstream/handle/bdcamara/2227/agrotoxicos_construcao_lucchese.pdf.
Acesso em: 03/05/2014.
PALMA, D. C. A. et al. Agrotóxicos em leite humano de mães
residentes em Lucas do
Rio Verde – MT. 2011.
Instituto de Saúde Coletiva. Universidade Federal do Mato Grosso.
Por Lucas Vinícius Domingues, sob orientação da professora
Laura Alves Martirani
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