sexta-feira, 21 de agosto de 2015

A sociedade do plástico e a problemática dos oceanos

O plástico


O plástico, devido a  características como maleabilidade, dureza, resistência ao calor e ao choque, tornou-se, no último século, a matéria base da indústria de eletroeletrônicos, automotivos e embalagens industriais. Nas últimas décadas, seu uso expandiu-se ainda mais,  com a inclusão, no consumo de varejo, das sacolas plásticas.
O plástico é produzido a partir do petróleo, um recurso relativamente barato e abundante, apesar de ser um recurso não renovável. Apresenta menores custos de produção, quando comparado a outros materiais como, por exemplo, os metais. 
De acordo a jornalista Gwynn Guilford, em matéria publicada pela Quartz (2014), nos anos 90, a produção mundial de plásticos ultrapassou 100 milhões de toneladas por ano, sendo que para o final de 2015 a estimativa de produção é de 300 milhões de toneladas/ano ou seja, três vezes mais (Figura 1).


Figura 1: Aumento da produção mundial de plástico. Fonte: GUILFORD, 2014

Plástico é como chamamos os polímeros sintéticos produzidos a partir de derivados do petróleo, cujas características químicas e físicas podem variar dependendo das moléculas envolvidas na sua constituição e que resultam em diferentes tipos de produto final (como ilustra o vídeo "Tipos de plásticos e suas reciclagens") . A produção do plástico se acumula no ambiente, uma vez que seu processo de decomposição em condições naturais é lento, podendo alcançar centenas de anos. Essa característica o tornou o maior poluidor do planeta.
Embora uma parcela dos produtos plásticos possa ser destinada à reciclagem, a maior parte acaba nos aterros sanitários e nos oceanos, o que representa um agravante ambiental, devido ao aumento do tempo de decomposição nesse ambiente. Estima-se que enquanto nos aterros sanitários o Nylon (um plástico poliamida) se decompõe entre 30 a 60 anos, nos oceanos essa decomposição levaria 650 anos (COMPAM, 2011).

Plástico nos oceanos


Origem e a degradação ambiental


Figura 2: Rio poluído com lixo continental, em sua maioria material plástico. Foto: deccanchronicle.com


      A poluição oceânica por plástico é um problema ambiental de escala planetária que ameaça a sobrevivência da vida marinha e que impacta, inclusive, a atividade pesqueira e o tráfego das embarcações em alto mar.

O plástico chega aos oceanos principalmente, através dos rios, que trazem o lixo descartado indevidamente nos continentes (Figura 2) e também por lançamento direto em águas profundas.
O destino dos plásticos lançados nos oceanos tem intrigado os cientistas. Atualmente, segundo Guilford (2014), o volume de plástico descartado à deriva nos mares, é da ordem de 7 a 35 mil toneladas. No entanto, esse número representaria apenas de 1 a 3% do total de plástico já lançado nos oceanos desde a sua invenção. Como não houve tempo suficiente para a sua decomposição, existem diferentes hipóteses para explicar o destino desse material. A ideia mais aceita é de que uma parcela tenha sido degradada pela ação solar, outra pequena parte tenha sedimentado sob o leito oceânico e o restante tenha sido consumido pela fauna mesopelágica (organismos marinhos que vivem em profundidades entre 200 e 1000 m, na sua maioria pequenos peixes e crustáceos), que constituem a maior parte da população marinha.
Os impactos do plástico na dieta dos mesopelágicos marinhos não foram satisfatoriamente estudados ou dimensionados, cujo acúmulo pode vir a gerar um colapso nessas populações, trazendo, inclusive, prejuízos para a indústria da pesca, já que esses animais formam a base da alimentação dos grandes peixes carnívoros, tais como o Atum e a Cavala.

As Ilhas de Plástico


Figura 3: Material à deriva nos oceanos Foto: oceanbites.org


Em 1997, o oceanógrafo Charles J. Moore escreveu um artigo no qual relatava uma presença massiva de lixo numa determinada região do Pacífico, que posteriormente foi apelidada de Ilha de Plástico. Trata-se de um acúmulo do lixo humano despejado no mar, que ficou aprisionado em uma determinada área oceânica, devido à ação das correntes marinhas. Esse montante de resíduos é composto basicamente por plásticos, em 80%, isso o leva a flutuar, sendo que a maioria do material fica submersa a poucos metros de profundidade.

 Figura 4: Locais onde ocorre o acúmulo do lixo nos oceanos devido às correntes oceânicas. Foto: gaianet.com

           Na época do estudo, a área dessa ilha era de 3,4 milhões de km2, correspondendo a aproximadamente 40% do território do Brasil e sua profundidade atingia até centenas de metros. Esse acúmulo não é único nos mares, posteriormente, outros quatro pontos de menores proporções foram identificados em diferentes oceanos (Figura 4).


As perspectivas de despoluição dos oceanos


No início de 2012, um projeto científico idealizado por um estudante holandês chamado Boyan Slat (Figura 5), na época com 19 anos, trouxe uma esperança a problemática. Com um método revolucionário e simples, ele prometeu limpar todo o oceano em até cinco anos, focando–se em três ações: extração, prevenção e interceptação.
  
Figura 5: Boyan Slat em uma de suas palestras para divulgação do projeto. Fonte: ABC Environment

 O método de extração do lixo, principalmente o plástico dos oceanos, proposto por Boyan Slat consiste numa solução simples e inteligente. O método propõe a instalação de estações de coleta, em pontos pré-determinados dos oceanos, onde são  instaladas barreiras flutuantes, que cumprem a função de acumular e concentrar os resíduos na maioria plásticos, que são levados até esses pontos por correntes marinhas.

Esse procedimento resolve a maior dificuldade do método tradicional de limpeza dos oceanos, no qual era necessário que embarcações percorressem os mares atrás do lixo, sendo necessárias grandes incursões para resgatá-lo.
O projeto também prevê ações de conscientização da sociedade, como campanhas para evitar o descarte inadequado de lixo nos oceanos e mobilizações para incentivar a redução do consumo do plástico e outros materiais descartáveis. A próxima etapa do projeto prevê a instalação de equipamentos de coleta a jusante dos grandes rios que deságuam nos oceanos, impedindo que a poluição continental chegue às águas oceânicas.
O custo financeiro dessa nova operação é muito menor do que aquele gerado pelo método tradicional. O projeto ainda prevê o aproveitamento e reciclagem do material resgatado, sendo que a perspectiva é de 65 metros cúbicos de material por dia recolhido, com a capacidade de ser reciclado, de modo a gerar receitas financeiras que cobrirão os gastos de toda a operação.
A engenharia a ser montada para a operação necessitaria da instalação de barreiras com alguns quilômetros de comprimento, posicionadas em regiões com forte influência das correntes marinhas para direcionr o lixo sobrenadante até uma central, onde a cada 45 dias ele seria coletado. A profundidade dessa barreira não ultrapassaria os três metros o que, segundo estudos científicos, não afeta a fauna marinha.
Existe um grupo de pesquisadores e ambientalistas que criticam o projeto. O maior problema estaria na viabilidade da limpeza na escala oceânica na forma como foi proposta e também na qualidade do material plástico recolhido para a reciclagem, o que reduziria seu retorno financeiro. Outra crítica diz respeito à superexposição e uso exagerado da mídia.
Apesar das críticas, se obtiver sucesso, essa iniciativa pode inspirar dezenas ou centenas de outras ações pelo mundo, onde medidas simples podem vir a causar grandes melhorias no ambiente e na vida das pessoas. Pensando nisso... você conhece algum problema ambiental em sua cidade ou região, que não teve solução até hoje e parece perdurar para sempre?! Quem sabe, se olhar por uma ótica diferente, possa encontrar uma solução simples e criativa para o problema! Vale a pena tentar!

Referências Bibliográficas:

COMPAM.Tempo de decomposição dos resíduos. Recicla.net., 2011. s.d. Disponível em: <http://www.compam.com.br/decomposicao.htm> Acesso em: 03 jul. 2015.
DUMIAK, Michael. Is Boyan Slat's idea to clean plastic from the oceans fatally flawed?
 Disponível em: <http://www.abc.net.au/environment/articles/2013/12/16/3911379.htm> Acesso em: 03 jul. 2015
GUILFORD, Gwynn. 99% of the plastic we throw in the ocean has mysteriously disappeared. New York, Quartz, 2014. Disponível em: <http://qz.com/228748/99-of-the-plastic-we-throw-in-the-ocean-has-mysteriously-disappeared/> Acesso em: 24 jun. 2015
IWERSEN, Rui. Lixo humano no mar. Disponível em: <http://gaianet.com/2009/03/11/lixo-e-enchentes-nas-cidades-brasileiras/> Acesso em: 03/07/2015
KAUR TUR, Jatinder. No measures taken to curb plastic menaceDisponível em:
MCLENDON, Russell. Want to see an ocean garbage patch in person? Mother Nature Network. Disponível em:



Por Lucas de Camargo Reis e Laura Alves Martirani